*Por Giselli Ferreira Raupp, Gerente de Regulação da Qualirede

Ao acompanhar o processo de Auditoria em Saúde pelo Brasil, afirmo que a realização de auditoria prévia (autorização) e dentro do ambiente hospitalar tem se destacado como o instrumento de gerenciamento e fiscalização mais apropriado às carências da gestão de informação onde o foco por muitos anos tem sido em identificar os erros, atuar na glosa de contas hospitalares e na redução destas despesas.

Esse modelo certamente mudou. A auditoria ainda é um instrumento importante,  contudo o grande objetivo é melhorar a qualidade do atendimento do paciente com gestão e promover sua segurança através da análise preditiva de dados, possibilitando  exatamente a junção do avanço tecnológico que temos, que inclui mineração de dados, machine learning, inteligência artificial e estatística com o alto volume de informações que criamos diariamente.

A ideia deste artigo é compartilhar um pouco do conhecimento que adquiri em minha trajetória como gestora de Regulação em saúde. Trata-se de um ensaio persuasivo para as mudanças que estão ocorrendo na auditoria.

Sobre auditoria, inovação e futuro

Sabemos que “prever o futuro” na medicina é um desejo mundial, e esse esforço une empresas, pesquisadores, médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, gestores de operadoras e desenvolvedores de inovações tecnológicas para saúde. 

O “futuro é agora”. É preciso inovar, buscar soluções que otimizem os recursos, que satisfaça o cliente, que viabilize controle dos processos, que agregue valor aos auditores, e, principalmente, que gere resultados. 

Isso é possível com a utilização de um modelo analítico baseado em técnicas de inteligência artificial, e com uma metodologia de análise preditiva no processo de auditoria. 

Caminhamos ao utilizar tantas fórmulas matemáticas e estatísticas, recursos de inteligência artificial, descobrimos padrões ocultos que especialistas humanos dificilmente enxergariam  – padrões que permitem identificar situações de fraude, de desperdício, e que prejudicam o cuidado do paciente. 

A auditoria, com sua visão holística do cuidado e com todo o conhecimento técnico- científico, vem contribuindo cada vez mais com a saúde populacional, tanto no sistema público ou privado.

Atualmente, na Qualirede, através da automação destes processos, auditamos previamente 95% da demanda através de uma auditoria de sistema onde padrões, protocolos automatizados e regras foram desenvolvidos e aplicados trazendo a inteligência para a máquina. 

Estes permitem um maior controle dos processos, atualização contínua, rapidez e eficácia na Regulação. Apenas 5% dos processos de auditoria prévia considerados alta complexidade, são avaliados por auditoria técnica especializada. 

Já a auditoria in loco, que chamamos de auditoria do cuidado, tem se destacado como processo inovador, com o único objetivo de cuidar do paciente. Ele é o centro. No primeiro semestre de 2019, a equipe de auditores do cuidado realizou 10.377 visitas para 3.734 pacientes trazendo os seguintes resultados:

• 172 eventos adversos identificados, onde foram registrados durante a visita num formulário eletrônico quem permite a gestão destes casos que foram notificados e solicitado plano de ação para o prestador.
• 303 negativas em pedidos de prorrogações e complementos que continham solicitações desnecessárias, sem cobertura e fraudes.
• 21 indicações de desospitalizações para home care

Fonte: BI Regulação – Qualirede 

Percebe-se que ferramentas e tecnologia levam a experiência da auditoria a um patamar mais elevado, acessar dados em tempo real torna o processo mais intuitivo e ainda mais transparente. 

O auditor do futuro

O Auditor do futuro cada vez mais precisa se dedicar aos estudos em análise de dados, inovar, mudar o mindset, ou seja, pensar “fora da caixa”. Utilizar a tecnologia como aliada para uma melhor tomada de decisão, acessar os dados em tempo real que torna o processo mais intuitivo e transparente. 

Ainda, deve ter o máximo de cuidado, imparcialidade e zelo na realização dos trabalhos e entender que o paciente é o foco. Deve garantir o seu cuidado sua segurança.

O Auditor do futuro sabe o que deve ser feito do ponto de vista operacional, deve fazer parte da construção do processo e ter responsabilidades pelos resultados.

Entende-se que para uma auditoria de qualidade, moderna e de valor, algumas competências serão necessárias, como:

• Foco no paciente;
• Pensamento criativo e inovador;
• Pensamento complexo, sistêmico e analítico;
• Flexibilidade e Resiliência;
• Inteligência emocional e social;
• Juízo de valor de tomada de decisão;
• Bom relacionamento interpessoal e comunicação;
• Conhecimento técnico-científico;

Em resumo, a aposta deve ser em profissionais que tenham uma atitude adequada, uma postura inconformista, curiosa, sempre orientada ao aprendizado e à busca proativa pelo novo, pelo desafiador, fora da zona de conforto. Profissionais que tenham esses atributos trarão sempre contribuições efetivas nesse ambiente de transformação qual estamos inseridos.

A tendência é que esse trabalho seja cada vez mais amplo e inovador. Nenhuma evolução ocorrerá sem considerar dois pontos: tecnologia e capacitação. Essas frentes são a base da abordagem que define a prática da auditoria do futuro.

Podemos concluir que inovações tecnológicas, como os conceitos de analytics, além de recursos de business intelligence (BI) serão empregados a favor da auditoria. Do ponto de vista da capacitação, o caminho para o auditor do futuro inclui atualização constante e observância às normas. 

Apesar da evolução histórica da auditoria em saúde, desde sua implantação, os avanços foram inegáveis, entretanto ainda há muito que se caminhar, principalmente, no sentido de oferecer maior controle de qualidade neste processo.

Desta forma, o desafio é conectar plataformas, soluções, recursos e pessoas.